O conde Henrique de Borgonha, veio à península para ajudar o rei de Leão e Castela a combater os muçulmanos.
Vindos
do norte de África no ano 711, as tropas muçulmanas, constituídas
essencialmente de soldados berberes, atravessaram o estreito de
Gibraltar e começaram a conquistar a península.
Um século antes, (612), Maomé começara a sua predicação na Meca.
Os
muçulmanos ocuparam primeiramente o sul da Espanha e depois o resto do
território com excepção do Noroeste muito montanhoso onde se refugiaram
alguns chefes cristãos et donde repartiria mais tarde a Reconquista.
A elite da nobreza borgonhesa
A resistência cristã começara a se organizar aparecendo assim um primeiro estado, o reino asturiano.
Este
reino compreendia quatro grandes unidades administrativas (Asturias,
Leão, Castela e Galiza) denominadas "terras" ou "províncias" e
submetidas à autoridade de um conde ou de um duque.
Mas
a vinda de novos conquistadores de África, desta vez tropas árabes,
levaram o rei Alfonso VI a pedir ajuda exterior constituída em geral por
Senhores e soldados.
Entre
os chefes de tropas figurava a elite da nobreza de Borgonha entre os
quais Henrique que era filho (4.º) de Henrique de Borgonha, bisneto de
Roberto I de França, sobrinho-neto do abade S. Hugo de Cluny, e irmão
dos duques Hugo I e Eudes I.
O
conde Henrique veio prestar mão forte ao rei Alfonso VI ao mesmo tempo
procurando fortuna em Espanha assim que seu primo Raimundo este mesmo
que viria a ser, pelo casamento com a infanta Urraca o traço de união
dos reis de Castela, de Leon e de Aragão.
A
cruzada na qual cooperam os dois primos data de 1087. Era dirigida pelo
duque de Borgonha Eudes I, e tinham como primeiro objectivo o reino de
Saragoça. Fracassou frente a Tudela. Os cruzados tiveram de lutar contra
o Cid., então aliado dos muçulmanos. Divididos, é nesse momento que o
duque Eudes I regressa a Borgonha enquanto seu irmão Henrique e seu
cunhado Raimundo vão combater sob as ordens de Alfonso VI de Castela,
obtendo várias vitórias.
Afonso Henriques , filho do conde Henrique de Borgonha
Surpreendido
pelos sucessos inesperados, mas também desejoso de guardar junto de si
tão valorosos combatentes, o rei de Castela faz de Henrique seu genro e
dando-lhe como dote o " Condado Portucalense " situado entre Minho e
Mondego.
Até
à morte de seu sogro em 1109, Henrique de Borgonha que entretanto viria
a ser conde de Portugal em 1095, respeitara o contrato de fidelidade ao
rei de Castela, mas, quando o poder cai nas mãos de sua cunhada D.
Urraca, a outra filha do rei falecido, ele recusa obedecer. Engrenou-se o
processo de independência.
Mas já não foi com ele mas sim com seu filho Afonso Henriques que a monarquia portuguesa seria proclamada.
Com
efeito, depois da morte de Henrique de Borgonha em 1112, o país conhece
novas dificuldades porque a sucessão é reivindicada por um lado pela
viuva a " rainha " Teresa ajudada pela aristocracia galega e por
seu filho Afonso ajudado por fieis portugueses e que venceria frente a
sua mãe na batalha de S. Mamede.
Mas
Afonso deveria esperar mais doze anos antes de tomar o titulo de rei de
Portugal. É a célebre batalha de Ourique contra os Mouros no Alentejo
em 1139, da qual saiu vencedor que ele assegura o trono. Em 1143 Afonso
Henriques sucederia a seu pai o conde Henrique de Borgonha e reinaria
até 1185.
Os Monges cistercienses no arrumo do território
Durante
o seu reino, o rei Afonso continua a obra de reconquista e organização
do território começado por seu pai. Entre os principais artesões do
povoamento e organização do território figuram os monges cistercienses.
Em
1131, segundo uma tradição borgonhesa, São João Baptista apareceria a
São Bernardo pedindo-lhe para fundar um mosteiro que lhe fosse dedicado.
Por outro lado , mandou-lhe também enviar os seus monges de Clairvaux
além Pirineus. Aí eles encontrariam um ermita chamado Cirita que lhes
mostraria o caminho.
Efectivamente,
o homem os conduziria junto do rei Afonso Henriques que os acolheram
calorosamente e lhes indicaria o lugar de Tarouca, perto de Lamego para
se instalarem. Em menos de quinze anos, o mosteiro de S. João de Tarouca
da qual a planta de construção era parecida com a da abadia de Fontenay
em Borgonha, viria a ser mãe de doze casas cistercienses estabelecidas
no novo reino. O rei teria ele próprio instalado a primeira pedra do
mosteiro, à vinda de Trancoso em Junho de 1122.
Os
trabalhos se terminariam a 30 de Junho de 1152, um ano antes do inicio
da construção de um outro mosteiro ainda mais conhecido, Alcobaça.
Durante
os combates para conquistar a cidade de Santarém aos mouros, Afonso
Henriques teria feito o voto de fundar não muito longe dali, o mosteiro
de Alcobaça. Em 1153 daria a Bernardo de Clairvaux e aos seus sucessores
vastas terras entre Leiria e Óbidos. Aí eles começariam a construção em
1178 da obra prima de arquitectura cisterciense que é a reprodução da
abadia de Claivaux.
É
no mosteiro de Alcobaça que repousa a célebre " rainha morta ", Dona
Inês de Castro, da qual o francês Henri de Montherlant fez seu sujeito
numa peça de teatro em 1942.
Regresso da Casa de Borgonha graças à Infanta D. Isabel
Despojada
do trono de Portugal em 1385 pela casa de Avis e depois de alguns anos
de lutas, a casa de Borgonha voltaria de uma certa maneira graças a
Isabel de Portugal filha do primeiro rei da nova dinastia João I e de
Filipa de Lencastre, princesa da Casa real da Inglaterra.
Isabel
nascera em Évora em Fevereiro de 1397. Era irmã do célebre Henrique o
navegador que fundou em Lagos a célebre Escola de Sagres, uma academia
pluridisciplinar que reunia sábios, astrólogos, cartógrafos e
navegadores vindos de toda a Europa.
Em
Sagres se inventaria a navegação astronómica, se criaria cartas
oceânicas e se construiria uma nova nave mais leve, a caravela. A
importância dos trabalhos da academia permitiria ao nosso povo de
navegadores a conquista oceânica.
Simplesmente
quatro anos depois do casamento de Isabel, Gil Eanes, capitão de Lagos,
ultrapassaria o cabo Bojador ao largo das costas de África.
O casamento com o duque Filipe o Bon
A
18 de dezembro de 1428, desembarcava em Lisboa uma embaixada que Filipe
o Bon duque de Borgonha enviara, afim de pedir a mão da filha ao rei D.
João.
Jehan
van Eyck, " famoso na arte de pintura " e " valete " do duque fazia
parte da comitiva. Tinha como missão fazer o retrato da futura duquesa
(retracto em anexo).
Isabel se casaria com Filipe o Bon em Bruges no sábado 7 janeiro de 1430. Ela seria a sua terceira esposa legítima.
Antes,
o duque que nasceu em Dijon a 30 de junho de 1396 tivera como esposas
Micheline de França, falecida com 28 anos em 1422, e depois Bonne de
Artois, viuva de Filipe de Borgonha sua tia por aliança.
Filipe
considerava a suas precedentes esposas como " máquinas de fazer
herdeiros ". Mas ele deixou-se seduzir pelo charme e beleza morena da
terceira.
Enquanto
isso, a embaixada enviada junto da corte lusitana encontra na pessoa de
Isabel, <<uma jovem muito bela e culta, da qual se dizia o melhor
bem>>.
Um
quadro flamengo, restitui-nos o seu retrato com traços regulares e de
olhos humildemente baixados. Mas a brasa arde debaixo da cinza, e com
esta fisionomia afável e doce, a infanta não esconde por muito tempo a
sua alma ardente, o seu carácter generoso mas de forte tempera.
A linda duquesa fez em seguida uma entrada triunfal na metrópole de Flandres .
Ela chegara de barco acompanhada de seis navios arvorando o grande pavês com os brasões de Portugal.
Desembarca
cedo por volta das nove horas no porto de Damme ao som de fanfarras e
de 150 000 pessoas aclamadoras. No local de desembarque esperavam-na uma
delegação enviada por seu marido.
Na
suite da infanta, via-se seu irmão D. Fernando, o bispo de Évora, assim
que os maiores representantes da nobreza portuguesa. O cortejo levou
duas horas para fazer o trajecto entre o porto e o palácio .
A duquesa teve três filhos dos quais os dois primeiros morreram muito cedo.
O terceiro, Carlos <<O Temerário>>, nasceu em Dijon em 1433.
Isabel faleceu em dezembro de 1471 em Aire.
A
9 de dezembro de 1957, o conselho municipal de Dijon, desejando
perpetuar o nome da duquesa, decidiu dar o seu nome<<Isabel du
Portugal>> a uma das artérias da cidade.
Mas
apesar de todos os laços que existiram, e dos intercâmbios que hoje se
fazem entre residentes portugueses e borgonheses (seis mil portugueses
em Dijon), a verdade é que nunca houve nenhuma geminação nem cerimónia
que marque a amizade duradoura entre a bela província de Borgonha e o
lindo país Portugal.
Mas não é menos verdade que ainda não é tarde...
Nas
ultimas informações, dois processos de giminação estão em curso entre
duas cidades de Borgonha com duas cidades portuguesas. São elas Dijon
com a cidade de Guimarães e a cidade de Sens com a cidade de Fafe.
Referencias:
_1097
Fundação do condado Portucalense a favor de Henrique de Borgonha, conde
descendente, casado com D. Teresa, filha bastarda de Afonso VI de Leon.
_1109 Morte de Afonso VI, divisão do reino de Leon com alargamento do condado para norte e para leste.
_1112 Morte do conde D. Henrique. Inicio do governo de D. Teresa com o titulo condessa de Portugal.
_1127 Invasão leonesa e perca da Galiza; regresso às fronteiras de 1109.
_1128
Revolta dos barões portugueses contra D. Teresa, batalha de Guimarães
(S. Mamede), exílio de D. Teresa e inicio do reino de D. Afonso
Henriques seu filho.
_1128-1137 Guerra contra Leon, fixação definitiva das fronteiras, a norte o rio Minho a leste o Douro.
_1139 Batalha de Ourique contra os mouros.
_1140 D. Afonso toma o titulo de rei dos portugueses.
Dinastia de Borgonha ( 1109-1385)
Conde D. Henrique, filho do Conde de Borgonha, casado com D. Teresa filha bastarda de AfonsoVI de Leão.
Dom Afonso Henriques (1109-1185) 1º rei de Portugal, casado com D. Mafalda de Savoia.
Dinastia de Avis (1385-1500)
O rei D. João I casa com D. Filipa de Lencastre.
Seus
filhos são D. Duarte I que lhe sucedera ; D. João Condestável do reino ;
Isabel que casaria com Phipippe o Bon de Borgonha ; D. Pedro duque de
Coimbra e regente durante a menor idade de D. Afonso V que sucedera a D.
Duarte ; D. Henrique o navegador duque de Viseu, Grande mestre da Ordem
de Cristo ; D. Fernando, o infante santo, Grande mestre de Avis ; e D.
Afonso.
Os quatro "Grandes Duques do Ocidente"
Os
quatro grandes duques do ocidente descendentes da casa de Valois,
reinaram os Estados de Borgonha durante mais de um século, de 1364 a
1477: Philippe o Corajoso, João sem Medo, Philippe o Bom (retracto em
anexo) e Carlos o Temerário.
A
Borgonha atingira nos seus reinados a sua apoje política e cultural,
simbolizada pela Tesura de Ouro, emblema da ordem de cavalaria fundada
por Philippe o Bon em 1430 para realçar o seu casamento.
Da
região do Maconês a Flandres, a potente Borgonha se integra
progressivamente no reino de França e no reino do Santo Império
germânico.
Os
territórios que lhes estava subministrados, foram assim enriquecidos em
obras do mecenio dos seus principies e dos seus próximos.